WAGNER TEIXEIRA
( Pernambuco – Brasil )
Jornalista, nasceu em Recife, PE, mas mudou-se paara o Rio de Janeiro. Formou-se em Direito na antiga Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.
Na década de 50, viveu na Alemanha.
Ao longo de sua carreira, trabalhou nas redações dos principais jornais brasileiros e foi professor das faculdades de Comunicação da UFRJ, PU-RJ , Gama Filho, Hélio Alonso.
TEIXEIRA, Wagner. Passatempo. Poesias. Prefácio Josemar Dantas. São Paulo, SP: Editorial Alhambra Novo Saber Tecnika Editora Ltda, 1995. 49 p.
Ex. bibl. Antonio Miranda, doação do livreiro José Jorge Leite de Brito.
Destroços
Do prato da vitória
quero apenas ser um dos cozinheiros.
Na noite de festa,
se houver memória,
serei um dos menestréis de plantão,
entre os primeiros que fizeram nossa história,
no morro, na rua, na fábrica, na seresta.
Você, que vi transformar
vagas palavras de ordem (palpites?)
em ações concretas,
receberá flores em profusão.
Não se comova além dos limites.
Há flores protocolares,
há flores de afeto
e há flores de adesão,
No auge da alegria,
rezo e reflito como um monge.
Sinto tudo e todos
cada vez mais longe.
As Quatro Estações
Primavera
Entretido no jardim,
não pude notar
que brotou a primavera.
Verão
Eros mostra-se nas areias
entre o mar infinito
e os pecadores do nono mandamento.
Outono
As folhas que caem por aqui
só fazem irritar
os garis e os porteiros de edifício.
Inverno
Inverno chegou.
É nossa chance
de usarmos o mesmo guarda-chuva.
Soneto de Natal
Se me agridem, logo compreendo
que não desempenhei minha missão
de amigo paciente e, num crescendo
afasto-me do ódio, chego ao perdão.
Se me beijam, em gesto seco, esquivo,
enxergo no outro o medo, a comoção,
que o impede de ser nobre, altivo,
e ter coragem, de estender-me a mão.
Se me celebram quando não mereço.
tento aceitar o fato, sem rancor,
registro o episódio e logo esqueço.
Quando alguém sente a falta do meu jeito,
no mínimo é Natal, festa do Amor.
Então, tudo perdoo e tudo aceito.
Saudosismo
Condenaram meu aparelho de rádio
a um triste papel:
anunciar morte,
doenças e tragédias
de todo gênero.
Onde está o locutor alegre,
outrora chamado speaker,
que lia poemas e contava anedotas?
Onde anda o animador de auditório,
que atraía as moças de subúrbios,
para ver seus astros e estrelas,
bem de pertinho?
Por que não se anunciam mais
nascimentos, batizados,
casamentos e noivados?
Agora, a moda é
entrevistar bandidos fanfarrões nas
delegacias,
descrever minúcias de crimes tenebrosos
e achincalhar pessoas detidas,
muitas vezes por delitos não comprovados?
Sou antiquado,
do tempo do Onça,
Quero ouvir o repentista,
o sanfoneiro, o menestrel,
o conjunto regional,
a flauta do Altamiro,
o recital de poesias,
as curiosidades atraentes
do Nada Além de Dois Minutos.
E, quando o galo cantar,
os seres humanos voltarão a se encontrar
no programa do César de Alencar.
*
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Página publicada em fevereiro de 2022
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